Vivemos
uma época de muitas nomenclaturas ministeriais no meio evangélico brasileiro.
Alguns líderes de diferentes denominações cristãs, mesmo atuando nas mesmas
funções, usam termos e nomes diferentes como apóstolos, pastores, bispos,
presbíteros e muitos outros. Infelizmente conseguimos identificar que alguns
ministros usam algumas nomenclaturas bíblicas por uma busca de autoridade
eclesiástica e um suposto poder espiritual, criando assim uma visível
contradição quanto ao real significado do título e dos nomes na Bíblia.
O que pretendo aqui é expor de forma clara a etimologia de
cada título, bem como seu uso prático na Bíblia, interpretando conforme o
contexto das Escrituras e comparando-os aos dias atuais. É bem certo que você
se impressionará com alguns desses significados devido ao grande equívoco e
falta de harmonia bíblica criada por nossos mestres-servos.
Estaremos
abordando os significados dos seguintes termos: Pastor, presbítero, bispo,
apóstolo, diácono, reverendo, missionário e cooperador. Escolhi lembrar do cooperador
pois existe também algo muito impressionante nesse termo, contrário em nossos
dias.
Pastor,
Presbítero e Bispo
No
contexto do Novo Testamento, os termos pastor, presbítero e bispo,
incrivelmente descrevem os mesmos servos. Trata-se de líderes atuando em
igrejas locais, cuidando do rebanho de Deus, a Igreja de Cristo (Atos 20.17,28;
1ª Pedro 5.1-3; Tito 1.5-7). As várias palavras, mesmo diferentes, identificam
os mesmos homens, mas é importante entender que cada palavra tem seu próprio
significado. Essas variações de sentido ajudam a mostrar aspectos diferentes do
trabalho dos ministros que cuidavam de uma congregação.
Para
uma compreensão bem definitiva, irei apresentar os significados desses termos,
dentro de uma ordem cronológica de surgimento e uso comum nos tempos bíblicos.
O
Pastor –
As primeiras vezes que aparecem o termo pastor na Bíblia se referem a alguém
cuidando de um rebanho (Gn. 13.7; Gn. 13.8; Êx. 2.17). Mas a partir do registro
do 1º livro dos Reis 22.17 em diante, o nome é usado como forma figurativa para
expressar situações referentes ao cuidado: “Então disse ele: Vi a todo o Israel
disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e disse o Senhor: Estes
não têm senhor; torne cada um em paz para sua casa”.
O
salmista Davi, o mais expressivo pastor de ovelhas das Escrituras também fez
uma belíssima comparação: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl.
23.1ss).
Concluímos
então que a figura do Pastor no Antigo Testamento não estava ligada à uma
autoridade espiritual, visto que nessa esfera se destacavam sacerdotes,
profetas e outros levantados pelo Senhor. O pastor de fato era alguém
responsável para cuidar do rebanho, que a partir da Antiga Aliança, não eram
pessoas e sim animais. Mas o termo figurativo ficou marcado, pois fora dito
pelo Senhor até mesmo no Pentateuco (Nm. 27.17).
Quando
chegamos ao cenário histórico do Novo Testamento vemos os líderes sendo
chamados para “pastorear” o rebanho de Deus. E essa nomenclatura passou a ser
usada justamente por causa das próprias palavras de Cristo, quando usando a
figura de metáfora, disse de Si mesmo: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a
sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são
as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e
dispersa as ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das
minhas sou conhecido”. (Jo. 10.11-14).
Jesus
usou a comparação por que sabia muito bem acerca do cuidado do pastor com as
ovelhas nos campos. Ser pastor a partir daquele momento, na visão bíblica e
neotestamentária, significava cuidar de vidas da mesma forma que Cristo
demonstrou no cuidado e ensino no seu ministério na terra. Ele consolou
pessoas, guiou, orientou, pregou, cuidou da alma ferida e alimentou multidões.
Foi humilde perdoando, lavando os pés dos discípulos para mostrar exemplo,
protegendo e dando a sua vida. Essas são características não apenas dos
pastores, mas de qualquer pessoa que tenha a responsabilidade de cuidar do
rebanho do Senhor.
O
Presbítero – do
grego πρεσβυτερος (presbyteros), “ancião” em algumas versões da Bíblia,
descreve alguém de idade mais avançada, experiente. A palavra é usada no Novo
Testamento para identificar alguns dos líderes entre os judeus. No livro de
Atos e nas epístolas, os homens que pastoreavam e supervisionavam as igrejas
locais foram frequentemente chamados de presbíteros (Atos 11.30; 14.23; 16.4;
20.17; 21.18; 1ª Timóteo 5.17,19; Tito 1.5; Tiago 5.14; 1ª Pedro 5.1; 2ª João
1; 3ª João 1). Necessariamente eram os cristãos mais maduros da
congregação. Usavam seu conhecimento e experiência para servir como modelos e
ensinar o povo de Deus.
Nas
referencias que apresentamos, interligando as palavras pastor e presbíteros,
temos as mesmas pessoas pelo seguinte fato: Os presbíteros foram chamados para
pastorear o rebanho de Deus. Isto é, os pastores do Novo Testamento eram os
mesmos líderes (presbíteros) que estavam à frente do cuidado da igreja. E mais,
recebiam muito bem para isso conforme 1ª Timóteo 5.18 que diz: “Os presbíteros
que administram bem a igreja são dignos de dobrados honorários, principalmente
os que se dedicam ao ministério da pregação e do ensino”. (Versão King James).
Observe que muitos presbíteros que eram de fato os pastore,s pregavam e ensinavam.
O
Bispo –
o termo vem do grego antigo επίσκοπος, (episkopos) “inspetor”, “superintendente”. Em 1ª
Pedro 2.25, a referência ao Senhor indica uma função além do pastoreio,
enquanto pastor. Várias outras passagens usam essa palavra para descrever uma responsabilidade
maior do mesmo pastor que foi escolhido para guiar os discípulos de Cristo no
seu trabalho na igreja (Filipenses 1.1; 1ª Timóteo 3.2; Tito 1.7).
Mas
o texto de Atos 20 e seus versículos é claríssimo na interligação das pessoas
do pastor, presbítero e bispo. No verso 17 Paulo convoca os presbíteros para
uma reunião, sendo que no verso 28 ele chama os presbíteros de bispos,
encojando-os ao zelo no pastoreio – “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho
sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja
de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”.
O
que na verdade revela o texto é que Paulo está diante de presbíteros (pastores)
que tinham a função de supervisionar (epískopos-bispos) várias igrejas.
Sendo assim, pastores, bispos e presbíteros não são três ofícios diferentes, e
sim três palavras que descrevem aspectos diferentes dos mesmos homens. Os
bispos de hoje devem ser, de acordo com o texto, aqueles que chamamos de presidentes
da igreja Sede, que deve estar na condição de uma igreja-mãe com várias
congregações.
Apóstolo –
esse título parece ser o mais cobiçado em nossos dias. Houve uma avalanche no
surgimento de apóstolos tão grande como em nenhum outro momento na história da
Igreja. Mas biblicamente e historicamente analisado há muitos equívocos quanto
ao chamado e função nessa nomenclatura “apostólica”.
O
termo grego ἀπόστολος,
(apóstolos) significa enviado. Em se tratando de
originalidade literária, o termo usado por Jesus aos escolhidos para a pregação
e propagação do Evangelho, denota uma missão para os lugares mais distantes,
onde ainda não chegara a mensagem de Salvação – “Portanto, ide e fazei
discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19ª).
Os
textos mais surpreendentes e reveladores das Escrituras, nos versículos de Atos
15, mostram presbíteros (pastores e bispos) ao lado dos apóstolos, deixando
claro que nenhum líder da igreja teve a ousadia de se auto intitular apóstolo,
pois sabiam que se tratava de uma nomenclatura exclusiva de Jesus aos doze
enviados – “Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra
eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a
Jerusalém, aos apóstolos e aos
presbíteros, sobre aquela questão”.(Atos 15.2). “E, quando chegaram a
Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e presbíteros, e lhes
anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles”. (Atos 15.4).
“Congregaram-se, pois, os apóstolos
e os presbíteros para
considerar este assunto”. (Atos 15.6). “Então pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros,
com toda a igreja, eleger homens dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabé a
Antioquia, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens distintos entre os
irmãos”. (Atos 15.22). “E por intermédio deles escreveram o seguinte: Os apóstolos, e os presbíteros e os irmãos, aos irmãos dentre os
gentios que estão em Antioquia, e Síria e Cilícia, saúde”. (Atos
15.23).[negritos do autor].
Partindo
do relato de Atos, que é o contexto primitivo, para a História da Igreja nos
períodos da idade média e moderna, não encontramos nenhum registro de uso do
termo apóstolo, a não ser o reconhecimento da Igreja a pessoas que estavam na
condição ministerial dos apóstolos de Cristo, quanto a lugares e condições como
Willian Carey, Charles Finney, George Whitefield e outros desse nível.
Os
apóstolos de Cristo não levantaram novos apóstolos, mas pastores e líderes na
igreja.
Mas
isso não significa que não podemos usar o termo apóstolo em nossos dias. Basta seguirmos a
etimologia da palavra, a função designada e, a contextualização do termo, o que
nos trará o resultado do nome Missionário.Ou
seja, os verdadeiros apóstolos dos nossos dias são os missionários que estão
distantes, enfrentando os desafios de culturas diferentes, passando aflições
até mesmo com suas famílias, para que o Evangelho salvador alcance corações
longínquos. Considere isso biblicamente correto.
Reverendo –
o termo vem do latim reveréndus indicando alguém que deve ser
reverenciado. É um tratamento dado as autoridades eclesiásticas de algumas
igrejas cristãs históricas.
Já
houve muitos debates acerca desse título, pois alguns o consideram um termo
equivalente à reverência dada à Deus, o que é puro engano, pois a real
etimologia da palavra “reverência” em se tratando da raiz do “reverendo”
é “respeito profundo”, “acatamento”, “consideração”. Não se pode confundir
reverência com adoração, pois são palavras de significados bem distantes. Temos
reverência no culto, mas o culto não é Deus, é para Deus. Temos reverência
diante de um tribunal, mas o tribunal não é Deus. Com isso fica claro que a
reverência é algo natural tanto para as questões espirituais como humanas.
Mas
a grande pergunta é: Pode o ministro ser chamado de Reverendo?
A
observância no título de reverendo aplicado aos líderes da igreja, numa visão
de respeito e consideração, pode ser melhor explicado tendo com exemplo a
interpretação real do termo bíblico “santo” do hebraico Kadosh, utilizado para mostrar
um atributo comunicável de Deus.
Kadosh
significa também algo sagrado, ou um indivíduo que foi consagrado perante
outras pessoas. Existem diversas variações para Kadosh: Kadeshsignificando sagrado, Kidush que significa santificação, ou
consagração, as palavras Yom
kadosh significando dia Santo
e, Kadish que significa santificação. Observe
que todas as palavras estão relacionadas à Deus, mas mesmo assim, no Novo
Testamento, somos chamados também de “santos”, principalmente nas epístolas, e
isso não significa que nos igualamos à Deus, pelo contrário, santos porque
somos separados para Ele.
Dessa
forma, a palavra Reverendo não indica que alguém deva ser reverenciado ao nível
de Deus, mas ser respeitado e considerado na função chamada por Deus.
Diácono –
a palavra no grego διάκονος, (diákonos) é “ministro”,
“servo”, “ajudante” e denota uma categoria de obreiro assistencial, cerimonial,
preservador, orientador, servidor etc.
Mas
se engana quem pensa que a instituição do diaconato está definida em Atos
capítulo 6. O vocábulo diakonein nesse texto não é técnico, tratando
apenas de “servidores” incumbidos de distribuir os fundos às viúvas
necessitadas. Se fossemos partir dessa aplicação do texto concluiríamos que a
função dos diáconos seria dentro desse limite, o cuidado com as viúvas.
Os
textos que revelam as funções ministeriais dos diáconos estão nas epístolas de
Paulo aos Filipenses e a Timóteo: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a
todos os santos em Cristo
Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos” (Filipenses
1.1). Atente que logo no verso 1 Paulo revela o contexto ministerial do
diaconato, que o coloca na posição de oficial da igreja ao lado do bispo. O texto
junto ao contexto histórico revela que os diáconos auxiliavam os pastores em
suas funções, sendo importante lembrar que, quando um ministro tinha a
necessidade de se ausentar da liderança e pastoreio da congregação, quem
assumia a direção era justamente o diácono, que nessa hora era reconhecido pela
mesma capacidade.
A
carta à Timóteo é mais reveladora ainda, quando Paulo declara e orienta: “Os
diáconos igualmente devem ser dignos, homens de palavra, não amigos de muito
vinho nem de lucros desonestos”.(1ª Timóteo 3.8) “Devem ser primeiramente
experimentados; depois, se não houver nada contra eles, que atuem como
diáconos”(Vs.10), “O diácono deve ser marido de uma só mulher e governar bem
seus filhos e sua própria casa”.(Vs.12).
Usando
o texto mais uma vez dentro de seu contexto fiel, podemos resumir que as
orientações dadas aos diáconos veem logo após a dos bispos (presbíteros,
pastores), concluindo que o diácono tem o mesmo nível de responsabilidade
desses, sendo o verdadeiro auxiliar do ministro.
O
diaconato é um ministério de verdadeira excelência!
O
Cooperador –
Você já se perguntou alguma vez por que o apóstolo Paulo ao final de algumas
epístolas faz menção dos cooperadores? Pois bem, pasme: os cooperadores eram os
cristãos mais capacitados (ministerialmente) para o auxílio em todas as áreas
da igreja!
Era
comum nos tempos bíblicos a menção de pessoas importantes ao final de uma
epístola ou registro relevante. O primeiro exemplo vem da carta aos Romanos,
onde o apóstolo além de apresentar uma extensa lista de cooperadores, faz
questão de frisar que, ele não escreveu a carta, mas apenas ditou para Tércio,
o grande cooperador (Rm. 16.22).
Cooperadores
ilustres são mencionados com grande destaque: “Marcos, Aristarco, Demas e
Lucas, meus cooperadores” (Filemom 1.24). “Saudai a Priscila e a Áqüila, meus
cooperadores em Cristo
Jesus ” (Romanos 16.3). “As igrejas da Ásia vos saúdam.
Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áqüila e Priscila, com a igreja que está em
sua casa”. (1ª Coríntios 16.19).
De
fato, os cooperadores que as epístolas mencionam possuíam capacidade maior que
muitos dos irmãos, pois eles ajudavam na organização do culto, na abertura de
novos trabalhos, na comunicação, na pregação, evangelização, nas viagens,
assistência aos obreiros em
geral. Eram homens e mulheres com visão muito ampla e
espírito de trabalho e cooperação além das expectativas.
O
tratamento que vemos hoje com os atuais cooperadores (principalmente nas
igrejas pentecostais) está muito fora da realidade bíblica. Precisamos
valorizar e reconhecer os trabalhos dos verdadeiros cooperadores.
Conclusão –
diante da investigação bíblica aqui exposta, respeitando os princípios e regras
da hermenêutica, numa exegese séria e fiel, devemos considerar que alguns
líderes que usam nomenclaturas ministeriais não condizentes com a observância
das Sagradas Escrituras, desrespeitam os termos estabelecidos por Deus e,
ignoram as designações de ordem eclesiais estruturadas pela igreja
neotestamentária.
O
que nos parece de verdade é uma inversão de significados e termos mal
entendidos, onde muitos se esquecem do verdadeiro sentido do chamado para
liderar vidas.
O
ministro ideal é aquele que, primeiramente, é considerado por seus liderados
como o maior dos servos. Os seguidores, de bom grado, concedem, a esses líderes
a autoridade para liderá-los, porque vêem nele alguém altruísta e voltado para
os demais. Como ministro de Deus, sua tarefa é levar as pessoas a buscarem uma
transformação e não apenas formular e impor leis, por meio de um suposto poder
espiritual gerado por títulos. Ele realiza uma mudança de cada vez.
O
líder percebe que as pessoas são seu único e maior bem na igreja, e executa
suas tarefas fortalecido pelo Espírito Santo. Usa o poder do amor para
transmitir novos valores.
Desejamos
como ovelhas, muito mais líderes guiados pelo Espírito, do que homens movidos
por títulos que em muitos casos exalto o próprio ego.
Fonte: NAPEC
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