"Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! porque o reino de Deus está dentro em vós." (Lucas 17: 20-21).

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Parece, mas não é...



O que dizer de Edir e Valdemiro e sua guerra religiosa? Preocupo-me quando vejo a reação de cristãos ao que está acontecendo com eles. O que deu errado? Edir e Valdemiro são anomalias ou espelho de quem somos? Se o comportamento deles é estranho, incompatível com o restante da cultura evangélica, o afastamento se justifica. Se é espelho do que somos, existe uma correção de rumo a ser feita.

Tanto Edir quanto Valdemiro têm um número enorme de seguidores oriundos das classes C e D. Vêm do catolicismo nominal ou das práticas espíritas ou afrobrasileiras. São atraídos pelo apelo ao sobrenatural, à cura, à libertação de tormentos diabólicos. São nutridos por uma cultura religiosa semelhante àquela de onde saíram, baseada em trocas, negociações com a divindade e parafernália simbólica.

É mentira o que Edir e Valdemiro pregam por todo o país? São eles enganadores da população fragilizada pela necessidade econômica? Se fizermos coro com a mídia, acusando-os de enganadores dos pobres, concordamos com dois conceitos perigosamente anti-Cristo. O primeiro é o de que a mensagem de cura, libertação e vida melhor na terra pro meio de Cristo -- a prática e a moral cristã -- é um engano. Se dissermos que eles não passam de charlatões, afirmamos que a fé cristã que propõem é falsa. Para a cosmovisão vendida pelas duas igrejas ser considerada falsidade ideológica, as promessas feitas têm que ser falsas: curas não vão ocorrer em nome de Cristo, demônios não existem e a prosperidade só acontece para pastores e bispos, mas não para o simples acólito.

Outro conceito que nutrimos ao combater Edir e Valdemiro é o da fragilidade e ignorância do pobre. O pobre é sempre um “coitado”, uma vítima -- indefeso e facilmente ludibriado. A Bíblia nos ensina a ter compaixão do pobre, mas não nos propõe sua desumanização. Pobre é gente, e gente tem acesso direto a Deus quando o busca. Gente, no sentido bíblico, nunca é mera vítima. Ser “imago Dei” não é privilégio da classe média bem informada. “Imago Dei” somos todos nós.

Se a Universal e a Mundial ludibriam o pobre, partidos populistas também o fazem. Se Edir é charlatão, também o são Lula e Dilma, com promessas grandiosas, seduzindo os pobres com propostas paternalistas. A atitude do PT com o pobre é tão messiânica quanto a da religião de Macedo e Santiago.

Eles não são ludibriadores da massa vitimizada, pois nem o que pregam é mentira nem a massa é vítima de nada, mas contribuidora voluntária com o que acredita ser a solução para os problemas dela. O sistema financeiro criado por eles, no entanto, fere princípios importantes do evangelho. Eles agem de maneira desonesta e tiram mais proveito pessoal do que deveriam da gratidão e da fé das pessoas. Macunaímas da fé, lhes sobra carisma e falta caráter.

Precisamos contribuir com o diálogo nacional sobre o assunto de maneira positiva. Enquanto a mentira, a ganância, o narcisismo, a autoglorificação e o caráter corrupto de líderes nos forem tão nojentos quanto o construto religioso que ofende a nossa sã doutrina, teremos uma proposta para o diálogo brasileiro hoje. Precisamos de mais caráter e menos guerra. A busca por mais caráter, porém, tem que passar invariavelmente por um olhar na direção do próprio umbigo.

• Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona com sua família e está envolvida em projetos de tradução da bíblia nas ilhas do Pacífico. É autora de Chamado Radical.

Via Luanna Nepomuceno

http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/336/parece-mas-nao-e

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