"Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! porque o reino de Deus está dentro em vós." (Lucas 17: 20-21).

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quem São Os Filisteu



No século 12 a.C;, a ilha de Creta e as praias da Ásia Menor foram invadidas por grupos originários do norte da Europa, entre os quais se destacavam os dóricos, que ocuparam a Grécia micênica, As vítimas desse ataque foram forçadas a se refugiar em ilhas do Mediterrâneo e na Ásia Menor,, mas acabaram por atacar e destruir o Império Hitita e, finalmente, tentaram invadir o Egito, primeiro através da Líbia, e posteriormente pelas costas da Síria e da Palestina. Derrotados por Ramsés III, os filisteus estabeleceram-se nas planícies costeiras da Palestina, provavelmente com o consentimento do faraó (uma vez que a região estava sob administração egípcia), o qual, dessa forma, tentava afastá-los de seu reino.

A origem dos filisteus ainda hoje é motivo de controvérsias. Há polêmica até mesmo sobre o fato de que se tratava de único povo, ou de uma confederação de povos que migraram do mar Egeu para o leste do mar Mediterrâneo, no século 13 a.C. No entanto, a teoria mais aceita cientificamente baseia-se na hipótese de que se tratava de um grupo indo-europeu que veio a conviver durante séculos com os povos semitas da região hoje conhecida como Israel. De acordo com o Velho Testamento, os filisteus teriam vindo de Caphton, isto é, de Creta, porém é mais provável que essa ilha tenha sido apenas sua última parada antes de se estabelecerem na Palestina. A verdadeira terra original desses “povos do mar”, entretanto, estaria situada em regiões mais distantes. Alguns estudiosos, baseando-se em certos nomes filisteus, consideram-nos descendentes dos ilírios (povos da região montanhosa da costa setentrional do Adrático).

A chegada dos filisteus à Palestina alterou sensivelmente a história de Israel. Apesar de menos numerosos que os israelitas, eles apresentavam maior coesão interna e desenvolvida organização política e social. Viviam em centros urbanos governados por um príncipe, com um exército permanente, além de contratarem guerreiros mercenários, Por ocasião das guerras, os governantes uniam-se contra os inimigos. Belicosos, possuindo armamento forte e pesado, guerreiros grandes e truculentos (conforme aparecem nos baixo-relevos egípcios), os filisteus uniram-se a outros “povos do mar” (que ocupavam o norte da Palestina) e iniciaram um processo de absorção dos cananeus, assim como a conquista das regiões habitadas pelos hebreus. Lá, fundaram cinco cidades: Ashod, Ascalon, Ecron, Gaza e a maior delas, Gate, e durante o período em que viveram nesta região sempre estiveram em guerra com seus inimigos hebreus, dos quais, aliás, são oriundas, em sua maioria, as informações sobre seu povo.

Alguns pesquisadores revelam que os filisteus possuíam elevado grau de sofisticação na produção de artefatos de ferro e outros materiais, e foi graças a essa capacidade de trabalho em metalurgia que quase sempre, quando seus exércitos partiam para a guerra contra os hebreus, eram vitoriosos. Suas primeiras vítimas a sucumbir nessa guerra de conquistas foram as tribos israelitas de Dan e Judá. Nessa época surgiu o mito de Sansão, transformado em herói dos pequenos grupos danitas e judeus de fronteira, que tentavam atos de violência contra os invasores. Entretanto, mal armados e constantemente traídos pelos próprios irmãos, os revoltosos foram sufocados. A situação tornou-se tão grave que todas as tribos palestinas resolveram submeter-se a uma só autoridade central, de forma que pudessem organizar uma insurreição nacional contra os filisteus, e escolheram Saul (1035/1010 a.C.) como seu rei. Na luta, o novo monarca não chegou a enfrentar grandes exércitos, cristalizando a revolta em uma série de guerrilhas de fronteira. A grande vitória israelita foi a conquista de Gabaa, a cidade natal de Saul, o que serviu para deter o avanço filisteu.

Com a morte de Saul e a derrota do monte Gelboé (cerca de 1010 a.C.), os israelitas ficaram novamente sem líder e sem defesa, ao mesmo tempo em que perdiam o vale de Jezreel, principal via comercial e militar entre o mar e o vale do Jordão. Somente Davi (1015/957 a,C.), o novo monarca, conseguiria salvar seu povo da desintegração. Aceitando a vassalagem, Davi foi favorecido pelos filisteus e conseguiu formar um Estado independente ao sul, composto pela tribo semi-israelita de Judá e pelas populações de Caleb. Uma vez empossado, o rei Davi decidiu lutar contra os invasores, sendo imediatamente atacado pelos filisteus que consideravam muito perigosa a união de todas as forças israelitas. Foi uma longa luta, consistindo principalmente de uma série de combates de fronteira, terminando com a expulsão dos invasores e com o declínio definitivo do seu poderio.

Embora resistissem a alguns hábitos palestinos e conservassem certas tradições, os filisteus adotaram rápida e completamente os costumes cananeus, em razão do intenso contato com a população local. Por isso, as divindades filistéias, por exemplo, são autenticamente semitas. Dagon, o deus do trigo, foi adotado como divindade da cidade de Azot, onde já possuía um templo e uma estátua; em Acaron foi adotado o deus Baal Zebou, senhor das moscas (a ele se atribuía o poder de afastar esses insetos, considerados demônios causadores de doenças). Da mesma forma, os nomes próprios dos filisteus (após sua chegada à Palestina) eram, em sua maior parte, hebreus, o que indica uma adoção imediata da língua local.

Por outro lado, foi com os invasores que se divulgou o uso do ferro entre os cananeus, bem como se acentuou a influência do estilo de cerâmica egéia na região. De certa maneira, também foi devido à invasão filistéia que as tribos de Israel agruparam-se, criando uma unidade até então condenada pelos princípios religiosos que consideravam o governo de um rei como afronta ao poder de Deus, visto como o único senhor das tribos – e do Universo.

O expansionismo guerreiro do império babilônico decretou o desaparecimento dos filisteus. Suas casas foram arrasadas e queimadas pelas tropas de Nabucodonosor, e os sobreviventes levados para o cativeiro a milhares de quilômetros de distância de suas cidades destruídas. Ainda hoje se debate como um povo inteiro deixou de existir. Alguns acreditam que eles foram culturalmente assimilados durante sua estadia na Babilônia, mas como isso ocorreu em tão pouco tempo levanta discussões interessantes entre historiadores e antropólogos.



FERNANDO KITZINGER DANNEMANN

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