"Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! porque o reino de Deus está dentro em vós." (Lucas 17: 20-21).

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rótulos, currais, vida de gado, povo marcado…



Nosso mundo sempre foi dividido em currais. Cercados, propriedades e jaulas sempre demarcaram os limites onde cada pessoa de cada grupo poderia ir. São os segmentos, as facções, as denominações que trazem um senso de pertencimento a algo que gera em nós uma espécie de satisfação e segurança. Temos uma tribo, um grupo, fazemos parte de algo grande, dizemos!

Esta segmentação social ajuda a formatar a identidade do indivíduo e, por conseqüência, o norteia.

Todos gostariam de pertencer a uma tribo, uma nação ou um povo com o qual se identificam e onde reconhecem estar enraizados.

No entanto, todos os segmentos e/ou currais impõem limites. Se usarmos como extensão nominal a tribo de onde viemos – seja qual for sua dimensão – logo seremos rotulados pelos demais.

Lembro-me quando saí do interior de Minas Gerais para morar na capital do Rio Grande do Sul e, logo na primeira semana, fui assistir ao show de um artista que gostava. Na volta pra casa, tomei o ônibus errado e me perdi e enquanto conversava com o solícito motorista, tentando receber algumas dicas de como retornar, alguém, percebendo meu sotaque estranho perguntou: “De onde tu é, tchê?” Respondi: “de Minas Gerais” e diante da resposta muitos no ônibus riram e começaram a fazer piadas sobre caipiras otários. Como bom diplomata que sempre fui, ri junto!

Anos depois, quando me converti ao cristianismo numa igreja evangélica, alguns no trabalho começaram a me chamar de “padre”, “pastor”, “irmão”, “mórmon” etc. Nem preciso dizer que era pejorativo! Tempos depois, comecei a questionar determinadas coisas que via na instituição evangélica. Foi aí que virei “punk”, “pichador”, “moleque”, “judas”, “rebelde”, entre outros adjetivos.

Seja o mineirinho otário, o crente babaca ou o punk rebelde, o fato é que sempre tentam nos encurralar e nos colocar num canto, onde podem decifrar quem somos e a que grupo pertencemos. É natural fazermos isso para mantermos a “ordem” geral da sociedade (em nossas mentes).

Há um texto que ilustra o que quero compartilhar com vocês. Está em I João 5:18-20 e diz assim: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não o atinge. Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo jaz no Maligno. Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro”.

Ali no meio há um versículo célebre pra todos nós, crentes: “O mundo jaz no Maligno”. Isto é, “o mundo todo está sob o poder do Mal”.

Este mundo é um grande campo e nós um extenso rebanho subdividido em muitos currais, cujas demarcações são efetuadas através de diversos fatores culturais, regionais, tradicionais e religiosos que nos rotulam como sendo parte disto ou daquilo. Pensamos estar livres tendo um vasto campo diante de nossos olhos, mas estamos aprisionados nos conceitos oriundos das tribos às quais pertencemos, cujas filosofias professamos e diretrizes obedecemos.

Contudo, apesar da Bíblia afirmar que todo o cosmos está sob o poder do Mal, o restante do texto de João diz coisas como: “aquele que é nascido de Deus não está no pecado”, “quem nasceu de Deus está protegido e o Mal não o atinge” e por fim declara que “recebemos entendimento de Jesus para conhecermos a Verdade”.
O ponto nevrálgico dessa questão está exatamente aqui: “o conhecimento da Verdade, que vem de Jesus”.

O Senhor disse: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, João 8:32 e este é o princípio que Ele próprio aplicou a sua existência terrena e espera que cada cristão faça o mesmo.

A Verdade nos liberta, mas de quê nos liberta? Do domínio mental, emocional, da co-dependência que temos com nossos segmentos e subdivisões. O Senhor quer nos promover a um status espiritual que se reflete em uma vida que flutua sobre esta existência terrenal e suas subdivisões.

Quando conhecemos a Verdade, deixamos de depender da aprovação social para nos sentirmos plenos; de carecer de um senso de pertencimento para nos sentir aceitos; desistimos do inútil esforço para alcançar o respeito, o carinho e a admiração dos outros, pois sabemos a Verdade e ela por si só nos basta.
Pelo conhecimento da Verdade, superamos esta necessidade que aflige todos os seres humanos: a da aceitação!

Cristo nos libertou desta inútil necessidade, quando nos ensinou o caminho da paz com Deus, cancelando as dívidas que tínhamos e nos reconciliando com o Pai que aborrecemos. Agora, tudo o que precisamos é flutuar sobre a vida terrenal, sem as obrigações e tentativas de “ser alguém” neste mundo mal.

Será possível, simplesmente viver? Não se preocupar com o dia de amanhã, com a conta por vencer e com o pecado que assedia?

Triste ver que o Evangelho que liberta, cura, satisfaz e deveria dar um reboot em nossos padrões de sucesso e felicidade, limitou-se, hoje, a mais uma instituição, mais uma tribo, mais um curral.

Ser crente agora não significa ser alguém que reflete a Luz do Messias sobre a Terra e suas instituições, alguém capaz de transitar pelo mundo que jaz sob o controle de Satã, adentrando sem se contaminar na política, nos negócios, na arte e na vida de modo geral.

Infelizmente, tudo o que conseguimos fazer com o que entendemos da mensagem do Mestre foi construir mais um segmento social, arrebanhando o gado de outros currais, atravessando terra e mar para fazer prosélitos e, tal como faziam fariseus e escribas em seu tempo, transformando-os em filhos do Diabo. Por quê? Porque não os libertamos, só os realocamos dentro do mesmo campo.

O mundo jaz no maligno e a igreja também! Quem se levantará para viver a Verdade livre, ao invés de simplesmente desejar construir seu próprio curral imperial de mármore, bronze e riquezas transitórias?

Gostaria de fazer parte disso e estou em busca…

Por: Rafael Reparador
gospel+

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