O dinheiro, o nível de instrução, a cultura e o zelo religioso são valores que dão destaque à vida de qualquer pessoa, mas não a autorizam a ignorar, desprezar e humilhar as demais. As aplicações a seguir envolvem três aspectos importantes da vida, em que o sentimento de autossuficiência pode manifestar-se: a autossuficiência em bens materiais, cultura e religiosidade.
Quem possui fé genuína, não se torna materialmente autossuficiente
A autossuficiência em bens materiais não assegura à pessoa a sua independência de Deus. Tiago condena duramente a postura de muitos crentes da dispersão que viviam apenas em função de lucrar nos seus negócios. Nessa busca por lucros, Deus foi esquecido e descartado. Todos querem, pedem e buscam prosperidade, mas nem todos sabem lidar com ela. Em tempos de prosperidade e estabilidade material, a pessoa, se não se cuidar, corre um sério risco de deixar Deus de lado (Os 12.8; 13.6). Por isso, Moisés advertiu Israel, ao estar prestes a tomar posse da tão sonhada e desejada terra de Canaã, a não esquecer nem abandonar o Deus que os tinha tirado da escravidão egípcia (Dt 8.10-14; 32.10-15).
A despeito dessas advertências, temos exemplos de pessoas que, mesmo esclarecidas sobre estas coisas, não se comportaram com base nesses ensinamentos. Como o rico insensato, inúmeras pessoas vivem apenas para si mesmas. Tudo o que ganham é guardado e utilizado para satisfazer os próprios apetites (Lc 12.13-21). Tiago reprova os mercadores por deixarem de fazer o bem com o dinheiro deles dizendo: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4.17). A melhor forma de lidar com a prosperidade consiste em partilhá-la com aqueles que não a têm (Hb 13.16; Rm 12.13; II Co 9.12; Fp 4.18; I Jo 3.16-18) .
Quem possui fé genuína, não se torna culturalmente autossuficiente
Ao se dispersarem pelo mundo não-judaico, muitos crentes judeus tiveram contato com uma cultura civilizada, sofisticada e diversificada. Com o passar do tempo, muitos se tornaram culturalmente autossuficientes. O sentimento de autossuficiência cultural pode levar à indelicadeza e à intolerância. Quantos irmãos, depois de adquirem formação acadêmica, tornam-se prepotentes na igreja... É importante haver, na igreja do Senhor, gente bem-informada, instruída, educada. Toda essa formação acadêmica, contudo, deve ser usada para o progresso do Reino do nosso Senhor Jesus Cristo. Quem dispõe disso deve estar sempre pronto a usá-lo não apenas em proveito próprio, mas, também, em benefício de outras pessoas, sem deixar de ser amoroso e humilde.
Os irmãos da igreja de Corinto, que se achavam senhores do conhecimento (I Co 3.18-20), estavam estragando e destruindo o relacionamento fraternal, por causa da autossuficiência. Eles se achavam tão religiosa e administrativamente autossuficientes, a ponto de considerarem desnecessária a intervenção de Paulo nos negócios da igreja (I Co 4.6-8). A estes, o apóstolo escreveu: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber” (I Co 8.1-2). Todo tipo de conhecimento, quer seja cultural, quer seja bíblico, deve ser usado com sabedoria e moderação (Rm 12.3,16). Confie no SENHOR de todo o coração e não se apóie na sua própria inteligência (Pv 3:5).
Quem possui fé genuína, não se torna espiritualmente autossuficiente
Muitos crentes da dispersão se achavam senhores do próprio destino. Eles se bastavam. Eram deuses de si mesmos! Achavam que tinham o controle do futuro, do amanhã. Viviam como se Deus não existisse. Gabavam-se das suas arrogantes pretensões (Tg 4.16b). Com a lembrança da fragilidade e da brevidade da vida (Tg 4.14), Tiago destruiu aquelas arrogantes pretensões (Tg 4.16b), das quais eles se orgulhavam. Uma das coisas que mais caracterizam a espiritualidade autossuficiente é a arrogância, que leva o indivíduo a considerar-se mais competente, mais qualificado, mais virtuoso e mais santo do que todos os outros; só ele conhece melhor as coisas; só ele faz o que é certo; só ele é justo (Lc 18.9-12; Ap 3.17-19).
Se há uma coisa que Deus abomina e detesta é a arrogância. “A soberba e a arrogância aborreço” (Pv 8.3). Abominação é para o Senhor todo altivo de coração (PV 16.5). Deus ordena: “Nada façais por vanglória” (Fp 2.3). E “não multipliqueis palavras de altíssima altivez” (I Sm 2.3). Assim como concede graças aos humildes, Deus resiste aos soberbos (I Pe 5.5). Com a mesma intensidade com que odeia a arrogância, Deus ama a humildade (Sl 138.6; Is 57.15). “Ainda que o Senhor é Excelso, atenta para o humilde” (Sl 138.6), diz a Escritura. “Os que vivem em humildade e dependência diante de Deus terão segurança e orientação. Lembre-se de Deus em tudo o que fizer, e ele lhe mostrará o caminho certo” (Pv 3.6 – NTLH).
Não podemos viver à parte de Deus. A pessoa orgulhosa, pretensiosa, que vive uma vida alheia a Deus e a sua vontade, é maligna. O maior pecado que alguém pode cometer contra Deus é crer que Deus existe, mas que Ele não pode fazer nada por ela. Esta pessoa passa a ser deus. Ela é uma ateísta prática. Se insistirmos nesta atitude de autossuficiência, estaremos pecando. Temos este desafio: inserir Deus em nosso projeto de vida, para termos uma vida plena. Só assim descobriremos que a vida não se resume a ganhar e gastar dinheiro.
A dependência é o caminho para uma vida sadia. Precisamos, diariamente, lembrar o governo de Deus no mundo e nas nossas vidas, e afirmar a nossa mais absoluta dependência dEle. Se Deus quiser, se for este o seu plano, a sua vontade, então, experimentaremos duas bênçãos: viveremos e daremos sequência aos projetos que planejamos com a orientação de Deus.
Os nossos projetos podem ser desenhados, sonhados, conversados, todavia, a realização dos mesmos vem de Deus. A confirmação vem da boca de Deus. “As pessoas fazem muitos planos, mas quem decide é Deus, o Senhor” (Pv 19.21).
Pr. Valdeci Nunes de Oliveira
A-BD
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